segunda-feira, 25 de setembro de 2017

FESTAS EM HONRA DA NOSSA PADROEIRA
NOSSA SENHORA DA AJUDA
Apontamentos para a história do culto Mariano na cidade de Espinho

«O culto Mariano foi aquele que atingiu maior expressão nesta Praia, merecendo a Nossa Senhora da Ajuda honras de Padroeira da povoação piscatória . Desse modo, a única festa que se realiza nesta freguesia dedicada ao culto de Maria remonta à segunda metade do século XIX . A imagem de Nossa Senhora da Ajuda, começou por ser venerada na capela de Nossa Senhora da Guia que havia sido construída em 1808 e demolida em 1883, ano em que foi benzida a primeira capela com a invocação da padroeira. O novo edifício ficava situado “no centro da povoação, ao norte da praça nova, ficando-lhe fronteiro um grande e espaçoso largo e havendo em redor d’ella o espaço necessário e desafogado para ser circuitada por qualquer procissão religiosa [e] que [tinha] a capacidade necessaria e até mais que sufficiente para abrigar dentro aquella população já assás numerosa, pois que muito propriamente podia chamar-se de Egreja do que capella e Egrejas Parochiais [havia] como as de Oleiros, Nogueira e Guetim, mais pequenas” .
A capela possuía um Sacrário, várias imagens de santos, um amplo coro, dois púlpitos, sacristia, uma lâmpada sempre acesa e capelão privativo. A população, para além de prestar culto a Nossa Senhora, era muito devota do Santíssimo Sacramento . Em 1886, a capela “foi elevada à categoria de igreja, passando a matriz quando em 1889, Espinho se constituiu em freguesia” . Em 1910, e devido à destruição pelas invasões do mar da capela que estava ao serviço do culto Mariano, a imagem da Senhora da Ajuda foi definitivamente transferida para a capela de Santa Maria Maior, onde hoje se encontra, e que foi construída em 1877 na rua da Graciosa (8) em frente à linha do caminho-de-ferro .
Os festejos em honra da Padroeira começaram a ser realizados por comissões de pescadores de Espinho. A partir de 1883 receberam o apoio da “Comissão Zeladora do Santíssimo Sacramento da Capela de Nossa Senhora da Ajuda” . Em 1885 foi constituída a Irmandade de Nossa Senhora da Ajuda que ainda tem como primeira finalidade sustentar o culto e veneração da imagem da Virgem Maria, nomeadamente através da celebração anual, no 3.º domingo de Setembro, das festas em honra da Padroeira .
No essencial, tanto a festa religiosa como a profana, não sofreram grandes modificações no decorrer destes anos. A parte religiosa constava de missa a grande instrumental (coro e orquestra), sermão matutino e vespertino, e “majestosa” procissão com vários andores (Senhora da Ajuda, Santa Rita, S. Sebastião, S. Francisco, etc.), muitos anjinhos e devotos. O préstito percorria as principais ruas da Praia, vistosamente iluminadas e embandeiradas, num cenário requintado pelas colgaduras de damasco que se estendiam nas janelas .
A parte profana, que decorria durante todo o fim-de-semana, incluía uma salva de vinte e um tiros a marcar o início dos festejos, fogo-de-artifício e de bonecos, música nos coretos e nas ruas, comidas e bebidas, venda de quinquilharias e artesanato de barro, barracas de tiro ao alvo, corridas de touros, e a tradicional feira das cebolas, no último dia da festa (Segunda-feira) . Predominam os requerimentos enviados à Câmara Municipal a solicitar a respectiva licença para a venda de alimentos (principalmente doces) e bebidas, assim como as barracas de tiro. Os vendedores ambulantes ocupavam sobretudo as ruas situadas a jusante da estação do caminho-de-ferro, em especial o largo de Nossa Senhora da Ajuda, Av. Serpa Pinto (Av. 8) e ruas do Cruzeiro (2), Bandeira Coelho (19) e Bandeira Neiva (23). O Largo e rua da Graciosa (8) era outra zona muito movimentada .
Um dos maiores problemas que se colocava aos organizadores da festa e ao município era a segurança de pessoas e bens. Todos os anos acorriam a Espinho milhares de forasteiros e, por esse motivo, a Companhia do Caminho de Ferro realizava comboios especiais entre Porto e Aveiro a preços reduzidos. Dos comboios saíam “cegos, aleijados, fidalgos e plebeus, tudo [vinha] prestar homenagem a Nossa Senhora d’ Ajuda” . A circulação por ruas e avenidas era bastante complicada, o mesmo acontecendo à entrada dos cafés, hotéis e casas de pasto. Na “estação do caminho-de-ferro, empurrões, apertos e os lugares eram disputados a murro” . Este ambiente buliçoso, propício a carteiristas e passadores de notas falsas, exigia todos os anos um reforço policial por parte do destacamento da polícia civil de Aveiro. Mais tarde, passou a contar com o apoio de agentes da polícia judiciária do Porto .
A Irmandade suportava as despesas da festa que englobavam a cera para os altares e lustres, padres para a missa e procissão, armação da igreja, música para os três dias, pregador, arranjo dos andores, iluminação do arraial, foguetes e fogo de artificio . A despesa com as forças policiais estava a cargo da Câmara Municipal.»
In "Sociabilidades e Marginalidades em Espinho - Práticas Sociais, Culturais e Associativas (1889-1915)".
NOTA: O cliché da fotografia Celeste refere "Capela de Nossa Senhora da Ajuda", quando deveria referir "Capela de Santa Maria Maior".

Armando Bouçon









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