sábado, 23 de setembro de 2017

PISCINA SOLÁRIO ATLÂNTICO


Com o decreto da regulamentação da lei do jogo de fortuna e azar de 3 de Dezembro de 1927, as sociedades concessionárias dos novos casinos, em consonância com os municípios, foram obrigadas à construção de um conjunto de infra-estruturas de cariz cultural e de lazer. Em Espinho, a reestruturação de velhos espaços e a criação de novos edifícios com a intenção de modernizar e tornar a estância balnear mais apelativa surgiu na década de 30 do século XX e, em especial, com o decorrer da década de 40. O Casino, o Palácio-Hotel, os actuais Paços do Concelho, a Piscina e o Cine-Teatro S. Pedro, exemplificam bem essa época de mudança. O papel desempenhado por várias sociedades de melhoramentos que se foram formando e que tiveram por missão impulsionar o desenvolvimento da terra, também se fez sentir no processo de construção da piscina pública. 
A história da sua edificação começou em 16 de Março de 1938, data em que foi presente à Câmara Municipal um requerimento assinado pelos irmãos António e Alberto Calheiros Lobo e José de Almeida Francez, no qual manifestavam o desejo de instalar no norte de Portugal uma piscina onde se pudessem praticar “todos os desportos de natação, [e] cujo melhor local para a sua instalação seria no terreno que confronta[va] do norte com a rua 13, do sul com a rua 17, do nascente com a rua 4 e do poente com a esplanada à beira-mar.” (Defesa de Espinho, 20 de Março de 1938) Na sequência desse desejo expresso, solicitavam a cedência do terreno inserido no espaço compreendido pelas respectivas ruas, afim de poderem executar o seu plano. Os signatários informaram a autarquia que o projecto da obra incluía “todos os aperfeiçoamentos modernos, muito superiores aos dos estabelecimentos congéneres existentes em Portugal, podendo ombrear com as melhores piscinas estrangeiras, sendo o seu custo de algumas centenas de milhares de escudos.” (Defesa de Espinho, 20 de Março de 1938) O sonho tornou-se realidade quando, em 1940, a Câmara Municipal resolveu abrir concurso para a construção de uma piscina-solário.
A proposta, memória descritiva, orçamento e plantas para a construção e exploração, durante 20 anos, de acordo com o regulamento do concurso, de uma piscina-solário, com campo de ténis e minigolfe, foi apresentada à Câmara Municipal em 13 de Novembro de 1940. A elaboração da respectiva proposta foi da competência da Empresa de Melhoramentos de Espinho – Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, com sede e escritório na rua 8, número 271. A constituição definitiva da Sociedade de Melhoramentos realizou-se por escritura notarial em 15 de Novembro de 1941. Dessa sociedade faziam parte o médico Agostinho Calheiros Lobo, os industriais Antero Calheiros Lobo, José Alberto Calheiros Lobo, José de Souza Almeida Francês, Lino Marilio do Nascimento, os proprietários António Augusto de Vilar Saraiva e António Cardoso de Freitas, e os comerciantes Belmiro Ribeiro, José Augusto Rezende Júnior, Mário Pinto Bizarro e Mário Victor Marques Guimarães. Os irmãos Agostinho e Antero Calheiros Lobo e José Augusto Rezende Júnior foram autorizados, em nome da sociedade, a outorgar e assinar o contrato de concessão da construção e exploração da piscina-solário. (Defesa de Espinho, 23 de Novembro de 1941)
O projecto foi elaborado pelos arquitectos portuenses Eduardo Martins e Manuel Passos, sendo depois submetido à Comissão de Estética que o aprovou por unanimidade e, também, enviado à Comissão do Domínio Público Marítimo para se pronunciar. O orçamento apresentado importava em 971.587$37. (Defesa de Espinho, 17 de Novembro de 1940) Do projecto inicial constava a construção de um tanque com 50m de comprimento por 20m de largura e um outro tanque, para crianças, de 10m x 9m, trezentas cabines-vestiário, instalações para diversas espécies de banhos, ginásio e bar “dancing” e, ainda, bancadas em cimento com lotação para 1000 pessoas, entre outras zonas de lazer. O projecto acabaria por ser ampliado com mais trinta metros, tendo sido a empreitada geral adjudicada ao construtor civil António Catarino da Fonseca por cerca de dois mil contos. Finalmente, no Verão de 1942, começavam as tão desejadas obras. (Defesa de Espinho, 30 de Agosto de 1942) A construção do campo de ténis e do mini-golfe não foi concretizada, e em sua substituição foi construído um parque infantil, denominado Paraíso das Crianças, que ocupava o quarteirão situado entre a piscina e o ring de patinagem. O parque infantil dispunha de uma pista para bicicletas e triciclos, rampas, balancés, pontes e outros divertimentos. (Defesa de Espinho, 13 de Junho de 1943)
Em 10 de Julho de 1943, e após um ano de intenso trabalho, era inaugurada a Piscina Solário-Atlântico. Com uma área total de 6.200m2, o seu interior compreendia um tanque de 50x22m denominado “Atlântico”, com profundidade de 1,20 a 5m, outro de 20x10m, para crianças, denominado “Espuma do Mar”, com a profundidade de 0,80 cm, balneários diversos e para banhos de imersão, cabines individuais e colectivas, solários e ginásio. O bar e o restaurante conferiam ao recinto o aspecto próprio de uma grande obra. Por cima do solário principal (com capacidade para 600 pessoas) havia lugar para a colocação de bancadas amovíveis. A imagem de marca da piscina estava e continua a estar bem patente nas suas três pranchas de saltos (3, 6 e 10 metros), hoje desactivadas. Existiam ainda dois trampolins que ladeavam as pranchas, “tobogans” e colchões flutuantes, manufacturados com lã e cortiça. As piscinas são alimentadas com água do mar, na época da sua construção, captada em seis poços, água que era filtrada e renovada constantemente, e a sua iluminação profusa transmitia uma excelente visão nocturna. A cerimónia de inauguração contou com a presença dos alunos das classes infantil e juvenil da escola de educação física do S. C. de Espinho, orientados pelo professor Silvério Vaz, e com os nadadores do Sport Algés e Dafundo, Associação Portuense de Natação, Associação Aveirense de Natação e Associação de Natação de Coimbra. Das diversas provas realizadas destacaram-se uma demonstração de Polo Aquático com arbitragem de Bessone Basto e os saltos de prancha fixa e trampolim. O desportista Alberto César Machado ocupava o lugar de director técnico da piscina. Servindo desde a sua abertura como local de aprendizagem de natação para diversas gerações de espinhenses, o espaço, durante alguns anos, continuou, também, a ser utilizado para provas de natação, saltos e pólo aquático. 
O restaurante e bar de apoio, assim como o salão nobre, inaugurado em Julho de 1944, animavam com os seus jantares-concerto, bailes e festas, as noites espinhenses. Actualmente este espaço de lazer, que foi restaurado nos finais da década de 90, continua a ser muito frequentado e é uma das principais referências turísticas da cidade.

Armando Bouçon











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